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Cao Hamburger: “A televisão brasileira tem que explorar mais os tabus”

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Bruno Capelas

De volta à TV aberta falando para o público infanto-juvenil com a série “Pedro & Bianca”, Cao Hamburguer fala ao iG sobre os jovens de hoje em dia, cinema e “Castelo Rá Tim Bum”

Cao Hamburger é um grande ídolo da geração que cresceu nos anos 1990, embora muita gente mal saiba que foi ele um dos principais responsáveis por "Castelo Rá Tim Bum". Aos 50 anos, afastado das produções infanto-juvenis dos canais abertos desde 2000, o diretor paulista retorna à televisão aberta neste domingo (11), com "Pedro & Bianca", nova série da TV Cultura.

Ambientada em uma escola pública, “Pedro & Bianca” quer falar sobre o universo adolescente a partir da vida dos irmãos do título, prestes a entrar no primeiro ano do Ensino Médio. Gêmeos bivitelinos, Pedro e Bianca se incluem em uma estatística quase improvável - ele é branco, e ela é negra, algo que tem apenas 0,0001% de chances de acontecer na vida real.

Falando sobre assuntos polêmicos de maneira franca, como sexo, gravidez, bebida, trabalho e namoro, e contando com uma personagem bissexual e um cadeirante, “Pedro & Bianca” promete ser uma atração bem diferente das convencionais “Malhação” e “Rebelde”.

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“Essa é uma série que quer mostrar as diferenças, entendê-las e valorizá-las, porque o Brasil é assim. Acho que a TV brasileira precisa explorar mais os tabus, e estamos tentando fazer isso agora com ‘Pedro & Bianca’”, explica Cao.

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“Pedro & Bianca” mostra jovens com profundidade, leveza, humor e poesia

A nova série da TV Cultura, porém, não é o primeiro trabalho do diretor em 2012. Em março, ele lançou seu terceiro filme, “Xingu”, que conta a história dos irmãos Villas-Bôas, abordando a questão indígena de maneira peculiar. Foi ele também o responsável pela direção da apresentação do Rio de Janeiro na cerimônia de encerramento das Olimpíadas de Londres.

Na entrevista a seguir, o diretor paulista conta como surgiu “Pedro & Bianca” e avalia a produção da TV brasileira para jovens nos dias de hoje, além de revelar seu amor pelas séries “That 70s Show” e “Família Soprano”.

iG: Como surgiu a ideia para “Pedro & Bianca”?
Cao Hamburger: Antes da ideia, tivemos um conceito, que era falar sobre essa idade tão conturbada e movimentada da vida que é a adolescência. Achei que faltava uma boa abordagem desse universo na televisão brasileira, e a TV Cultura topou. Queremos falar de tudo, ou quase tudo, que envolve os dramas e as emoções dessa época, com profundidade e leveza ao mesmo tempo, um pouco de poesia e de humor também.

iG: E a história dos dos irmãos gêmeos de cores diferentes, como apareceu?
Cao Hamburger: Há muitos anos, vi uma matéria numa revista que falava sobre dois irmãos gêmeos que haviam nascido há poucos dias, e eram filhos de pai negro e mãe branca. Ao invés de serem mulatos, cada um tinha a cor da pele de um dos pais. É algo muito raro, mas que acontece bastante. Isso ficou na minha cabeça por bastante tempo, porque era uma história interessante, especialmente pensando na miscigenação do povo brasileiro, e agora ela veio á tona.

"'Pedro & Bianca' é meu primeiro trabalho para adolescentes, e está sendo uma experiência muito intensa", diz Cao Hamburger

Foto: Reprodução

O paulistano de 50 anos participou da cerimônia de encerramento das Olimpíadas de Londres, no especial sobre o Rio de Janeiro

O paulistano de 50 anos participou da cerimônia de encerramento das Olimpíadas de Londres, no especial sobre o Rio de Janeiro

Foto: Reprodução

"'Xingu' é um filme que fala sobre um tema tabu, e mesmo assim foi bem nas bilheterias, com 400 mil espectadores", avalia Cao sobre o filme de 2012

Foto: Reprodução

"Castelo Rá Tim Bum" foi o primeiro sucesso de Cao Hamburger na TV - e por ele o diretor é lembrado até hoje

Foto: Reprodução

Em 1999, o primeiro de filme de Cao foi uma adaptação da série do feiticeiro Nino para o cinema

Em 1999, o primeiro de filme de Cao foi uma adaptação da série do feiticeiro Nino para o cinema

Foto: Reprodução

Inovadora, a série

Inovadora, a série "Os Urbanoides" era feita em stop-motion, e era exibida durante a programação da TV Cultura nos anos 1990

Foto: Reprodução

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O "Disney Club", que foi exibido pelo SBT nos anos 1990, contava com a direção de Cao Hamburger

Foto: Reprodução

"Filhos do Carnaval" foi dirigida por Cao em 2006 para a HBO

Foto: Reprodução

Em 2004, o paulistano foi responsável por um dos episódios de

Em 2004, o paulistano foi responsável por um dos episódios de "Cidade dos Homens", da TV Globo

Foto: Reprodução

"O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias", de 2006, falava sobre um garoto cujos pais foram perseguidos pela ditadura militar

Foto: Reprodução

iG: No making of da série, é dito que “Pedro & Bianca” procura retratar a vida de um adolescente da cidade de São Paulo. É só sobre isso?
Cao Hamburger: Acho que só por acaso eles moram em São Paulo. “Pedro & Bianca” é sobre a vida de um adolescente em uma cidade grande brasileira, principalmente nos bairros afastados e nas periferias. Para mim, os dramas da adolescência são universais.

iG: Como vocês chegaram aos temas que mereciam mais atenção na série?
Cao Hamburger: Conversamos com alguns grupos de jovens nas escolas, e tentamos trazer roteiristas de diferentes origens, experiências e idades para termos uma visão mais ampla da adolescência. Ainda estamos escrevendo os roteiros, porque é uma série de 46 episódios na primeira temporada, e a cada tema é um novo desafio. Como eu disse, tudo é muito intenso nessa época da vida, e um tema que parece trivial se mostra muito denso e interessante na hora H.

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iG: Lidar com a linguagem dos jovens foi um desafio?
Cao Hamburger: Sim e não. As gírias sempre mudam, e às vezes é difícil pegar o jeito delas, mas tirando isso, foi tranquilo. Os meus filhos acabaram de sair da adolescência, então eu estava com a linguagem dessa idade no ouvido. Não é um grande mistério: tudo o que os jovens dizem é muito exposto, muito à flor da pele.

iG: Os jovens mudaram muito nas últimas duas décadas. Como você encara esse cenário?
Cao Hamburger: Na essência, acho que nada mudou muito para os jovens. Consigo enxergar algumas mudanças superficiais, como as redes sociais, o celular, a maneira como se ouve música hoje em dia, mas os grandes dramas - o primeiro amor, o primeiro emprego, o que fazer de faculdade, o contato com a bebida e as drogas - são os mesmos.

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iG: Os jovens não assistem mais tanta televisão como antes. Qual você acha que é o segredo de “Pedro & Bianca” para tentar atraí-los?
Cao Hamburger: Nossa carta na manga é a identificação. “Pedro & Bianca” fala de coisas que eles estão vivendo, de uma maneira pertinente e que eu acredito que eles vão gostar. Todos os episódios são muito intensos, e com muito humor - que é mais ou menos como eu me lembro que era ser adolescente. Tudo era muito difícil e tinha muita adrenalina, mas eu ria muito.

iG: “Rebelde”, que acabou há menos de um mês na Record, e “Malhação” são dois programas que falam sobre adolescentes na TV brasileira. O que “Pedro & Bianca” tem de diferente deles?
Cao Hamburger: Sem querer comparar, acho que o “Pedro & Bianca” tem um cuidado mais apurado na estética e no conteúdo. Além disso, é uma série que se passa em uma escola pública, o que dá à história uma brasilidade muito forte. E “Pedro & Bianca” é uma série, não é uma novela. Normalmente, as séries conseguem ir um pouco mais além na profundidade que as novelas.

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iG: Alguns personagens de “Pedro & Bianca” prometem ser um bocado polêmicos, como o cadeirante Raul, ou a Tuca, uma menina que está indecisa sobre sua orientação sexual. Houve alguma pressão por parte da TV Cultura para lidar com eles de maneira diferente?
Cao Hamburger: Não. Foi uma proposta da equipe de criação ter esses personagens, e a Cultura topou numa boa. O Brasil é um mosaico de cores, backgrounds e culturas. Essa é uma ideia que já está na origem da série, que é mostrar as diferenças, entendê-las e valorizá-las.

iG: Você acredita que conseguiria abordar tais temas de um jeito legal em outra emissora aberta?
Cao Hamburger: Acho que sim. A Globo já teve produtos que tiveram a coragem de trabalhar com temas polêmicos, mas não é toda televisão que abriria esse espaço. Para a Cultura, acho que é uma coragem tocar nesses tabus - embora, na minha opinião, seja uma bobagem eles serem tabus. Acho que a televisão brasileira tem que se aventurar mais por universos e abordagens desse tipo.

iG: Há um personagem cadeirante na série americana “Glee”. Foi uma inspiração?
Cao Hamburger: Confesso que não. Me mostraram algumas fotos da série, mas não sabia disso. Gosto muito de algumas séries americanas, mas não teve nenhuma em especial que nos inspirou. Falando sobre adolescentes, gosto muito de “That 70s Show”, que aborda a adolescência com uma liberdade enorme, muito maior do que a televisão brasileira usualmente permite. Além disso, admiro muito “Seinfield”, “Família Soprano” e “Mad Men”.

iG: Há algum ídolo jovem dos dias de hoje que você admira?
Cao Hamburger: Não me vem ninguém à cabeça agora. Mas eu espero que Pedro e Bianca se tornem uma referência. Não ídolos, mas uma referência.

iG: Nos últimos anos, o cinema brasileiro fez vários filmes sobre jovens, como “As Melhores Coisas do Mundo”, “Antes Que o Mundo Acabe” e “Desenrola”. Seus dois últimos filmes falaram sobre temas adultos, mas você tem vontade de fazer cinema para adolescentes?
Cao Hamburger: Tenho um projeto em estado inicial, ainda na cabeça, para abordar esse universo. Acho que filmes interessantes já foram feitos falando de jovens, como os clássicos do James Dean (“Juventude Transviada”), um do [Francis Ford] Coppola que pouca gente fala, o “Vidas Sem Rumo”, e gosto muito dos filmes jovens do Jorge Furtado, como o “Houve Uma Vez Dois Verões”. Acho que o cinema brasileiro faz muito bem de explorar esse mundo.

iG: Em março, você lançou “Xingu”, um filme que tinha um propósito educativo, assim como tem “Pedro & Bianca”. Como você avalia o filme hoje, meses depois de seu lançamento? Ele cumpriu seu papel?
Cao Hamburger: Acho que a questão indígena é um tema tabu no Brasil, até hoje. Mesmo assim, foi um filme que foi bem nas bilheterias. Conseguir 400, 500 mil espectadores para esse filme foi ótimo. Agora, o filme vai virar uma minissérie para ser exibida na TV Globo, e acredito que a nossa mensagem terá um alcance ainda maior.

iG: Para encerrar: em 2012, faz 15 anos que “Castelo Rá Tim Bum” terminou. O que ficou para você daquela experiência?
Cao Hamburger: É um orgulho ter feito parte desse programa, que virou um clássico da TV brasileira. Não é raro eu ser abordado na rua por adultos que me agradecem e me falam da importãncia do “Castelo” na infância deles. Foi um privilégio participar de tudo isso, em uma conjunção de fatores que deu muito certo.

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